Redes temáticas avançam em iniciativas para a garantia de direitos de crianças e jovens e estímulo à leitura de qualidade
Setembro foi um mês de diversos avanços para a Rede Temática de Leitura e Escrita de Qualidade para Todos (LEQT) do GIFE. O grupo, que realizou três encontros neste período – dias 15, 22 e 26 -, deu passos importantes e pôde sistematizar e progredir nas pautas estabelecidas previamente.
A Rede conta com duas frentes de ação: uma delas, chamada de Grupo de Trabalho (GT) Indicadores, tem como objetivo identificar, formular e divulgar indicadores que permitam a avaliação dos próprios esforços da LEQT. Já a outra frente, o Grupo de Trabalho (GT) Território, está responsável pelo desenvolvimento de uma ação coletiva em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro.
A atuação em Nova Iguaçu foi resultado de uma votação entre três propostas. A indicação do município carioca foi feita pela organização Recode, membro da LEQT. Discutir a criação de um Plano de Ação Colaborativa que atenda às necessidades de leitura levantadas no Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas (PMLLLB) de Nova Iguaçu foi um dos desafios encampados pelo GT Território.
Segundo Iracema Nascimento, consultora de articulação da LEQT, o Plano Municipal, aprovado no final de 2013, é resultado de mais de três anos de discussão local sobre o que a cidade necessita em termos de promoção da leitura. “O plano é organizado em quatro eixos, com metas de curto, médio e longo prazo para cada um desses eixos. Nós, da LEQT, entendemos que, se desejamos contribuir com um território que já tem um plano elaborado e aprovado por diversos atores envolvidos na questão da leitura, é preciso tomá-lo como referência”, disse.
Atuar em parceria com redes regionais já existentes e aproveitar experiências locais de leitura e escrita, como o PMLLLB, é uma das proposições presentes na Carta de Princípios da LEQT, que serve como uma referência durante todas as reuniões.
No sentido de aproveitar toda a discussão e mobilização dos atores em Nova Iguaçu para a aprovação dessa política pública, a LEQT dividiu sua atuação em dois eixos: o de Formação e o da Articulação. De acordo com Iracema, a ideia é estudar as metas do Plano Municipal e, a partir delas, pensar como a Rede pode contribuir para sua consolidação a partir de ações que envolvam os eixos estabelecidos.
“A implementação do Plano Municipal é tarefa de muitas instituições governamentais e não governamentais, de Nova Iguaçu e de fora, como é o nosso caso. Então, vamos olhar para as metas definidas e ver como podemos contribuir para seu cumprimento. No eixo de Formação, existem inúmeras possibilidades, como formação de professores, de bibliotecários, de mediadores de leitura, entre outros atores”.
Já no Eixo de Articulação, ela faz um paralelo com a própria Rede Temática de Leitura e Escrita de Qualidade para Todos, comparando a articulação entre institutos e organizações que participam da LEQT com a articulação dos atores em Nova Iguaçu. “A LEQT identifica que fragmentações de ações e descontinuidades, sejam de políticas públicas ou das próprias ações de promoção da leitura, acabam acontecendo. Nós queremos contribuir com a articulação local no sentido de mostrar que o trabalho conjunto é um caminho para superar essas fragmentações e aumentar o impacto das ações”, ressalta Iracema.
A LEQT em Nova Iguaçu
Além da elaboração do Plano de Ação Colaborativa, o GT usou os encontros para bater o martelo sobre outros temas como, por exemplo, o início da presença da LEQT em Nova Iguaçu. Segundo a consultora, a ideia é aproveitar o calendário de eventos do final de 2017 do município e marcar presença nesses encontros, já atuando com o eixo de Formação, por exemplo. “Agora em outubro acontecerá a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia em diversos campi de universidades no Rio de Janeiro, inclusive em Nova Iguaçu. Então, estamos em parceria com os atores locais, como a Recode e a Secretaria Municipal de Ciência e Tecnologia, para começar a levar a LEQT à Nova Iguaçu”.
Izabel Cermelli, representante da Associação Casa Azul na LEQT, acredita que aproveitar as demandas já levantadas e acordadas por atores locais no Plano Municipal é fundamental. “Elaborar o nosso Plano de Ação a partir do Plano Municipal é muito importante porque precisamos saber quais são as necessidades do território. A criação desse plano está nos ensinando a trabalhar em rede, a entender como diferentes instituições se unem para fazer algo coerente com suas identidades e que, ao mesmo tempo, dialogue com as necessidades de um território específico, pois não adianta chegar com um pacote pronto debaixo do braço que não faça sentido para o local”, pondera.
Além disso, ela destaca que a ideia de atuação da LEQT não é apenas identificar as demandas contidas no Plano Municipal e articular maneiras que a Rede pode colaborar. A proposta é ir além. “Cada instituição que participa da RT tem uma identidade. Então a nossa ideia é propor uma ação que dialogue com o Plano Municipal e as necessidades enunciadas nele, mas que seja uma construção cheia de sentido para a Rede de Leitura também, uma ação que una as instituições e a RT como um todo”.
Indicadores
Enquanto o GT de Território concentra seus esforços na atuação em Nova Iguaçu, o objetivo do GT de Indicadores é, a partir de pesquisas com as próprias organizações e instituições membros da LEQT, identificar, formular e divulgar parâmetros e indicadores comuns que ajudem a Rede a avaliar suas próprias ações de promoção da leitura e formação de leitores.
A ideia é também que os indicadores formulados possam, futuramente, ser uma referência de avaliação para diversas organizações que desenvolvam projetos no âmbito da leitura e escrita de qualidade. Segundo Roberto Catelli Jr, consultor dessa frente de atuação, o fato da LEQT já ser uma rede plural torna mais fácil a aplicação desses indicadores em outras organizações que trabalhem com o estímulo à leitura. “Ampliar o uso desses indicadores também alimenta muito mais o debate público sobre o tema, que é ausente. Esse é um dos objetivos da própria Rede”, comenta.
Na reunião realizada no dia 26 de setembro, em São Paulo, o GT fez uma leitura crítica da primeira versão dos indicadores a partir do relatório de pesquisa “Protótipo dos Indicadores de Qualidade em Projetos de Promoção da Leitura”. Segundo Roberto, os próximos passos do grupo incluem uma reorganização do quadro de indicadores, com o objetivo de torná-los mais enxutos e acessíveis para o público. “A avaliação da primeira versão foi muito boa. A partir de agora, vamos tentar fazer uma organização do ponto de vista de nomes, de chaves e depois do uso desses indicadores, pensando em como esse trabalho poderá ser finalizado”, explica o especialista.
Apesar de depender de fatores externos, a ideia é publicá-los até o final de novembro. Entretanto, isso só acontecerá depois que o GT conseguir testá-los na prática com pelo menos uma instituição. Esse pré-teste consiste na avaliação de uma ação da organização a partir do conjunto de indicadores formulados na LEQT.
Rede Temática de Garantia de Direitos
Outro grupo que apresentou avanços foi a Rede Temática de Garantia de Direitos. As reuniões do grupo geralmente são divididas em dois momentos: uma parte reflexiva, com a apresentação de um tema ou projeto que inspire um debate, e a outra de trabalho, visando implementar o Plano de Ação definido pela Rede e discutir próximos passos.
Na reunião do dia 28 de setembro, a Rede Temática contou com o apoio da coordenadora de projetos do Futura, Priscila Silva, que apresentou o projeto “Crescer sem violência”, uma parceria entre o Canal Futura, o UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e a Childhood. As séries “Que Exploração é essa?” e “Que abuso é esse?” foram produzidas com o objetivo de levantar a discussão sobre abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes.
Segundo Claudia Sintoni, especialista em mobilização social na Fundação Itaú Social, membro da Rede, a exposição do projeto foi como um aquecimento para a discussão que veio em seguida sobre a elaboração do seminário “Violência contra as crianças, adolescentes e jovens”. A iniciativa, promovida pela Rede, pretende levar o debate até a Câmara dos Deputados, em Brasília, no final de novembro, como uma forma de ocupar um espaço e oferecer dados, informações e possíveis caminhos a serem seguidos para melhorar a situação da infância e juventude no Brasil. “O nosso papel é levar informações técnicas, além de mostrar estratégias de como atuar nesse campo, tudo isso de uma forma que mobilize as pessoas”, ressalta.
Claudia defende essa opção da Rede Temática de tratar o tema a partir de uma agenda positiva. “O assunto é muito grave: vamos falar sobre exploração sexual de crianças, sobre a questão do jovem negro. Mas a ideia é apontar soluções”, completa.
O seminário será dividido em três momentos. A primeira parte terá como objetivo apresentar e contextualizar o tema de forma técnica. Em seguida, a partir de uma mesa chamada de “intersetorialidade”, a proposta será mostrar a importância do trabalho conjunto nessa agenda. Por fim, os Conselhos de Direitos da Criança e do Adolescente ficarão responsáveis por apresentar casos de sucesso de articulação entre diversos atores.
Segundo Claudia, a expectativa é mostrar como os Conselhos podem atuar como articuladores entre diferentes frentes, uma vez que são os responsáveis pelas políticas da infância e adolescência nos municípios. “Durante o Seminário inteiro, levaremos organizações sociais que estão trabalhando no tema para dialogar com o poder público, em um esforço de apresentar a intersetorialidade e a articulação como valores para trabalhar o tema, quase como princípios para que as soluções sejam fortalecidas”, ressalta.
Além dos avanços com relação ao Seminário, a Rede também progrediu em iniciativas de outras frentes de ação, como é o caso do levantamento de materiais de comunicação sobre a mobilização de recursos para os Fundos da Infância e Adolescência. Trata-se de uma estratégia de olhar para o conhecimento já produzido sobre o assunto, elaborados principalmente por empresas e organizações que estão na Rede, e reuni-los. “A proposta é levantar o que é referência, estudar onde existem gargalos e quais são as demandas, para pensar em outras formas de intervenção”, comenta Claudia.
A ideia é que o conjunto de materiais seja transformado em uma pasta do Sinapse (site do GIFE que reúne publicações relevantes sobre investimento social e terceiro setor), para que pessoas utilizem-a como referência.