Quando as palavras faltam pela ausência, é preciso recorrer às memórias, às imagens para que possamos seguir

Native Instruments

Por Ricardo Queiroz Pinheiro

Estive com o Chico De Paula uma vez apenas em 2015, provavelmente, numa atividade sobre bibliotecas públicas e comunitárias na UNIRIO. Chico me entrevistou após a palestra que fiz. Trocamos ideias rápidas, já o conhecia virtualmente e o admirava pela tenacidade e o trabalho fundamental que fazia na Biblioo.

Chico era um bibliotecário espacial, um comunicador arguto e um agente do direito de formação humanista e socialista. Chico era sobretudo um comunista, profundamente sensível e enraizado nas suas origens da classe trabalhadora.

Desde o primeiro contato, o Chico se tornou um amigo. A distância ele no Rio, as vezes no Maranhão, eu aqui em São Paulo, as vezes em São Bernardo. Trocamos muitas ideias, mazelas da vida, as buscas constantes que incomodam as mentes inquietas e os desafios militantes e profissionais.

Lives, debates, lançamentos de livros, entrevistas, colaborações, mas principalmente o compartilhamento de ações, ideias e ideais.

Em 2020, o Chico ofereceu um projeto para lançar em livro o texto da minha dissertação de mestrado. Ele não se conformava de eu não fazer circular o produto da minha experiência coletiva na construção do Plano Municipal do Livro, Leitura e Literatura de São Paulo.

– Ricardo, esse texto precisa circular.

O sotaque maranhense carioca dava o relevo da intensidade de tudo que o Chico fazia. E ele fez muito. No meu caso particular, editou meu livro, cumpriu todos os compromissos firmados, foi justo, foi companheiro, foi a essência daquilo tudo que ele acreditava nas leituras, nos sonhos e nos ideais de vida, foi um verdadeiro amigo.

O livro saiu, ficou disponível nas plataformas. Em dezembro de 2021, quando estávamos nos preparativos para lançar o livro, o Chico me disse que estava doente. Daí, foi rápido, diagnóstico, tratamento, esperança, os contatos rareando, três meses e pouco…

O Chico De Paula, meu querido amigo nos deixou hoje, poeticamente no dia dos bibliotecários, profissão que ele honrou e pela qual lutou muito.

Um adeus precipitado, injusto, pródigo, triste como as coisas tristes intensas são. Eu me solidarizo com sua companheira, com sua filhinha, com todas as pessoas que amam o Chico, como amigo e parceiro.

É um dia terrível, como os dias de grandes ausências o são.

Adeus Chico de Paula.

Boa viagem, camarada!!!

Ricardo Queiroz Pinheiro: Bibliotecário e gestor cultural. Atua há 30 em unidades de informação. Desenvolve ações em mediação de leitura e informação, programas de formação de leitores, classificação e organização de acervos. Tem experiência em gestão pública e cultural (cargos de chefia na Secretaria de Cultura de SBC). Atuou, por três anos, como assessor parlamentar na Câmara Municipal de São Paulo, na área de Cultura e Educação.
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