Rede LEQT enumera conquistas e planeja atuação para 2019 e 2020

Na reta final de 2018, a última terça-feira foi um momento de balanço e planejamento para a Rede Temática (RT) de Leitura e Escrita de Qualidade para Todos (LEQT).

Criada e atuante desde 2012, a Rede se reuniu no dia 27 de novembro na Biblioteca do Parque Villa Lobos, em São Paulo, para discutir sua atuação, avanços e objetivos alcançados no biênio 2017/2018, debate que ocupou a parte da manhã do encontro, enquanto a tarde foi destinada ao planejamento estratégico para traçar caminhos, diretrizes e prioridades para 2019 e 2020.

Depois das boas vindas e de uma breve dinâmica literária, foi apresentado um balanço das ações da Rede elaborado pela coordenação – formada pela Rede de Conhecimento Social, Itaú Social, FTD Educação e Instituto C&A -, juntamente com o conselho consultivo durante uma reunião em outubro. Usando a metodologia da análise F.O.F.A (Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças), o grupo elaborou uma proposta de planejamento para ser validada com os outros membros durante a última reunião do ano.

A discussão abordou as diversas frentes de atuação da RT, como o Grupo de Trabalho (GT) de Indicadores e também a atuação no território de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, do GT Território. O balanço abordou os resultados esperados nessas duas frentes e o status atual de cada um deles.

Levando em consideração a Rede como um todo, o grupo considera que há muitos motivos para celebrar. A participação expressiva nas reuniões gerais é uma das estratégias transversais a ser comemorada, assim como a chegada de novos membros. Segundo Iracema Nascimento, secretária executiva da Rede, as estratégias não são exatamente objetivos, mas são elementos fundamentais que integram o processo de constituição e fortalecimento de qualquer rede.

Ter uma Carta de Princípios que rege a atuação do grupo é outro ponto que merece destaque. O documento, que inicialmente tinha o título de ‘Manifesto’, foi elaborado por Iracema como conclusão de um processo de planejamento estratégico iniciado pela Rede ainda em 2016. À época, recém contratada, a secretária juntou diversos documentos e produções dos membros da Rede e elaborou um texto, que posteriormente foi revisado, editado e ratificado pelos membros da LEQT. A atual Carta de Princípios define diretrizes e objetivos das ações e da articulação da Rede.

A formação e consolidação dos Grupos de Trabalho – Indicadores, Território e Comunicação – também foi um estratégia avaliada positivamente, já que dividiu e deu maior grau de especialização e dedicação ao trabalho. Essa também é a ideia do Conselho Consultivo. Formado em uma reunião geral realizada em junho, o Conselho tem o objetivo de democratizar as decisões que acontecem dentro da LEQT e possibilitar que todo mundo participe de forma mais ativa na Rede, fazendo com que exista uma representatividade maior das organizações que fazem parte do ecossistema de leitura.

Além desses, outros passos foram reconhecidos durante o balanço, como a aprovação do primeiro documento de governança da Rede, a criação de uma identidade visual, o início da atuação no Facebook com a criação de uma página para divulgar atividades dos membros, além da articulação das organizações em projetos e outros eventos.  

Balanço dos indicadores

O GT de Indicadores foi criado para que um subgrupo dentro da Rede montasse indicadores que servissem para medir a leitura de qualidade em diferentes projetos. Idealizados para serem aplicados inicialmente entre associados e outras instituições membros da RT, a ideia do grupo é que o conjunto dos indicadores se torne um produto aberto a ser disseminado.

Para o biênio 2017/2018, o GT de Indicadores avançou nos dois resultados esperados, que previam a estruturação dos parâmetros e critérios relacionados à qualidade em ações de promoção da leitura para ajudar na reflexão e nas práticas do campo, e também uma publicação online e/ou impressa com o conjunto de indicadores. O grupo avaliou que ambos foram cumpridos, com o segundo ainda em andamento.

“Eu acredito que o primeiro dado positivo do balanço é ter conseguido chegar na primeira versão de uma publicação que vai poder ser distribuída com orientações para uso dos indicadores em um material público, que contém o primeiro passo dessa ideia de poder usar indicadores para acompanhar projetos no campo da leitura”, explica Roberto Catelli Jr, coordenador do GT de Indicadores.

Em 2018, uma aplicação piloto do conjunto de indicadores foi realizada com o projeto ‘Leia Comigo!’, da Fundação Educar DPaschoal. “Esse pré-teste do indicador foi bastante útil porque conseguimos fazer correções. Além disso, a experiência também serviu para a Fundação como um guia para olhar para algumas coisas que eles nunca tinham se debruçado no quesito avaliação”, pontua o coordenador.

Para 2019 e 2020, o grupo planeja inovar mais uma vez e desenvolver um conjunto de indicadores para mensurar a atuação em rede. “Queremos tentar mensurar em que medida o trabalho em rede alcança resultados mais potentes e as condições necessárias para que isso ocorra”, explica Roberto.

A ideia de criar um site para acelerar o processo de disseminação dessa produção foi outro ponto discutido durante a reunião. “Uma plataforma online pode disseminar os indicadores de maneira mais ‘em tempo real’ do que uma publicação em papel, que sempre exige um processo mais longo.”

Atuação em Nova Iguaçu

Para o GT Território, também eram dois os resultados esperados. O primeiro deles versa sobre o fortalecimento e articulação de atores públicos e privados em territórios específicos, visando a implementação de planos/políticas de leitura. Levar sua atuação e poder contribuir com o desenvolvimento de um território era uma vontade da LEQT desde o início.

Para isso, a Rede escolheu coletivamente o município carioca de Nova Iguaçu a partir da sugestão da Recode, organização com atuação local. Desde 2017, a LEQT tem se articulado a atores locais para apresentar seus objetivos e consequentemente apoiar ações que objetivem o desenvolvimento e melhoria dos índices de leitura na região. Uma delas é o apoio à implementação do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca (PMLLLB).

Este ano, entretanto, em função de mudanças institucionais e na gestão pública, houve uma desarticulação do GT Território, desacelerando os processos em Nova Iguaçu. “No começo do ano, circulamos entre os membros da Rede uma consulta sobre o que cada um poderia oferecer de ação para Nova Iguaçu. Fizemos reuniões para pensar em uma forma de integrar essas ações, mas chegamos à conclusão de que era preciso dar início ao processo imediatamente, de forma a não perder o timing e a animação do pessoal do território e também dos membros que estavam oferecendo ações. Acabou que o processo de organizar o terreno para colocar as ações em prática coincidiu com a desarticulação do GT”, explica Iracema.  

Apesar dessa desaceleração, a secretária executiva ressalta a necessidade de não conferir tanto peso ao fato, uma vez que trata-se de um movimento esperado. “A reunião geral de terça-feira foi interessante porque olhando para trás, eu consegui perceber que isso faz parte de um processo de implementação”, ressalta.

Por isso, à frente da secretaria executiva da Rede, Iracema mantém as expectativas altas para os próximos passos em Nova Iguaçu. “As perspectivas para o GT são promissoras porque o trabalho no território passou por uma fase até esperada de tatear o local, de começar a estabelecer vínculos de confiança com os atores locais, de se colocar mais presente e de fazer entender o que é essa Rede. Para nós, parece muito óbvio, mas as pessoas do território, principalmente o poder público, se questiona sobre qual é o nosso interesse em Nova Iguaçu, e eles têm razão de querer entender, afinal não somos uma rede local. Então, eu acho que existe um tempo de maturação das relações e dos vínculos, além de um processo de nos tornarmos mais presentes e conhecidos. Com envolvimento mais próximo dos parceiros locais, o GT Território ganha novas atribuições para 2019”, ressalta Iracema.

Monica Silva, da Rede Baixada Literária, organização da sociedade civil que participou ativamente da elaboração do PMLLLB, também argumenta que mudanças de cargos e pessoas na gestão pública e a falta de compreensão sobre a forma de atuação e interesse da Rede LEQT para com Nova Iguaçu são processos que desaceleram a articulação.

“Eu entendo que essa fragilidade aconteceu porque no primeiro ano, o governo ainda está entendendo a máquina pública. No ano passado era o início de uma gestão governamental, com mudanças de cargos, então poucas pessoas sabiam sobre o plano e entendiam o que havia levado a LEQT para Nova Iguaçu. A circulação das pessoas fragiliza o processo.”

Apesar desses fatores, ela concorda com Iracema que o cenário é de otimismo para o futuro. Uma ação recente em Nova Iguaçu que foi celebrada na reunião é a criação de uma nova biblioteca comunitária no bairro Campo Belo do município chamada “Cantos de Leitura”. O espaço, inaugurado no dia 13 de novembro, só foi possível em função da articulação da LEQT com a Rede Educare, Rede Baixada Literária e patrocínio da Ball, empresa fabricante de latas para bebidas. “Nós tínhamos uma demanda para esse bairro e não estávamos conseguindo dar conta enquanto Rede Baixada. Quando surge a possibilidade de oferecer para a comunidade um espaço que está sendo muito bem frequentado, isso tudo é muito bom.”

Por fim, Monica destaca a importância de ter outra Rede no território apoiando a efetivação do PMLLLB. “A perspectiva que eu tenho é de que esse GT local vai se fortalecer mais ainda. Uma rede vai fortalecendo a outra e nesse sentido vamos conquistando coisas que nós acreditamos serem possíveis para o desenvolvimento da sociedade e principalmente dos mais vulneráveis, que é onde está o nosso maior foco de atenção dentro do município.”

Planejamento estratégico

A parte da tarde da reunião foi dedicada ao planejamento do biênio 2019/2020. No primeiro momento, foram exibidos quatro cartazes, um para cada aspecto da análise F.O.F.A, com os elementos principais de cada um e os participantes precisaram classificá-los em muito importante, importante e nada importante, além de adicionar sugestões.

Em Forças, foram destacados pontos como temática focada e transversal, importância da Rede, respeito à pluralidade e diversidade, persistência, leveza e continuidade dos encontros, secretaria executiva e um compromisso real dos membros com a causa. Como sugestão, os membros colocaram programas e projetos ofertados pelos integrantes da rede à sociedade.

Oportunidades foi o aspecto mais comentado. Foram destacados a monitoria do primeiro ano do Governo Federal, posicionamento sobre Políticas Públicas, entrada de novos membros e potência de crescimento, ampliar visibilidade da LEQT, repercussão e desdobramentos do Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF). Foram adicionadas as sugestões, articulação com outras redes do GIFE, fortalecimento da Rede para organizar a resistência em relação ao cenário político, investimento internacional e investimento da sociedade civil.

Em Fraquezas, foram observados pontos como a ausência de alguns setores na Rede, como poder público e academia, o tema da sustentabilidade financeira, a falta de definição de processos de posicionamento público e o engajamento dos membros no fazer da Rede, especificamente nos GTs.

Por fim, em Ameaças, receberam destaque de mais importante pontos como o contexto político brasileiro e restrições já em curso, como censura de obras e de abordagens. A instabilidade de parcerias públicas no território foi uma sugestão dos membros.

Em seguida, em uma parte externa da biblioteca, o grupo se dividiu em quatro para cada um debater um dos objetivos da Rede: Indicadores, Território, Advocacy e Fortalecimento Institucional e seus resultados esperados (RE). Com uma pessoa fixa em cada roda responsável por tomar notas, os demais membros faziam um revezamento para que pudessem discutir os quatro temas.

No Objetivo 1, os Indicadores, foram destacados os RE: aplicação de Indicadores em Nova Iguaçu, aplicação com acompanhamento junto a alguns membros, aplicação por todos os membros, projeto para desenvolvimento de plataforma/site e criação de Indicadores de Trabalho em Rede.

No Objetivo 2, Território, o grupo queria sistematizar experiência em Nova Iguaçu, elaborar um projeto de atuação no território com integração de ações e orçamento, revisitar e qualificar demandas do território junto com os atores locais e reconvocar e recompor o GT Território.

No Objetivo 3, Advocacy, ponto novo dentro do planejamento estratégico, busca-se construir e sistematizar conhecimento para desenvolver ações de advocacy, monitorar o primeiro ano do governo federal para traçar possibilidades de advocacy, emitir posicionamento diante de políticas públicas e definir focos técnicos e específicos, como por exemplo incluir bibliotecas como item de investimento no art. 18 da Lei Rouanet.

Por fim, o Objetivo 4, de Fortalecimento Institucional, previa a criação de um GT Institucional (reunindo os GTs de comunicação, governança, sustentabilidade e advocacy) e a elaboração de um Plano de Captação de Recursos para projetos específicos (Plataforma Indicadores e ações no Território).  

Como encerramento da reunião geral, cada pessoa responsável pela sistematização do  grupo relatou quais RE foram atingidos, repensados e remodelados e quais são os próximos passos de articulação da Rede para continuar avançando em 2019 e 2020.

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