Rede Temática em Leitura e Escrita de Qualidade para Todos apresenta estudos e pesquisas na área
O terceiro encontro da Rede Temática em Leitura e Escrita de Qualidade para Todos do GIFE, promovido em São Paulo, no dia 20 de outubro, contou com a apresentação de estudos e pesquisas que pretendem trazer subsídios e fortalecer as iniciativas realizadas pelos investidores sociais nesta área.
Na primeira parte do encontro, foi apresentado um estudo que está sendo realizado na Universidade Federal do Pará (PA) sobre experiências de iniciativas no campo, a partir da análise do concurso “Melhores Programas de Incentivo à Leitura”, promovido pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). O concurso está na sua 20ª edição e a pesquisa avalia 71 iniciativas premiadas ao longo destes anos, de todas as regiões do país.
“Sempre tivemos a preocupação na Fundação de poder partilhar os conhecimentos gerados pelo concurso. Por isso, é uma grande satisfação neste momento compartilharmos o material, pois acreditamos que podemos somar forças nas nossas práticas”, destacou Elisabeth Serra, secretária-geral da FNLIJ.
O prof. Luiz Percival Leme Britto, que orienta a pesquisa, falou a respeito das “linhas de força da promoção da leitura”. A proposta está sendo analisar o que move projetos/programas de incentivo à prática da leitura.
A pesquisa reuniu estes aspectos em seis linhas de forças, representadas visualmente por um mosaico tendo em vista que elas não são estáticas e se conectam umas às outras. “É comum encontrar quase todos os motivos nos programas, mas em diferentes graus. E isso é fundamental, pois dá o direcionamento e a extensão para a ação”, explicou.
A primeira linha e mais comum, principalmente nos projetos sociais, é a de “leitura e cidadania”, ou seja, vinculasse a ideia de leitura a um direito e, como qualquer outro, deve ser garantido.
A segunda diz respeito à “leitura e subjetivismo”. A ideia que está por trás é a da leitura que leva ao autoconhecimento, a de se expressar, de poder ser na sociedade. Assim, tem a marca da individualidade ou do individualismo algo que, segundo o professor, é uma característica muito forte dos tempos modernos. “É algo como: ‘fazer com que cada um seja autor da palavra’. Esse aspecto pode ser bom ou ruim. Eu entendo que o mundo moderno vive hoje uma subjetividade exagerada e isso prejudica mais do que ajuda a compreender a humanidade”, ressaltou.
Já a terceira linha é a de “leitura e ilustração” que, de acordo com a pesquisa, é a menos presente atualmente. Essa linha traz perspectivas como: ler é cultura, ler é conhecimento, ler é instrução. “Essa ideia de que o sujeito que lê é culto perdeu o peso nas últimas décadas”, pontuou Percival.
A quarta fala sobre “leitura e ludicidade” que, segundo o professor, pode ter uma duplicidade de possibilidades, tanto no sentido de “promover atividades lúdicas que despertem e estimulem a imaginação” quanto “estimular o gosto pela leitura e que esta se torne uma prática prazerosa”. Nessa linha, o que predomina são práticas que estimulam a leitura como um jogo, ler como diversão ou ler como prazer. “Essa duplicidade aparece, pois, pode ser a compreensão da leitura por meio do jogo, que é fundamental para o desenvolvimento infantil, por exemplo, mas reúne toda a indústria cultural que traz a ideia de que ler é ser alegre, feliz etc”, explicou o pesquisador.
Segundo Percival, a quinta linha e que também se apresenta muito forte é a de “leitura e utilitarismo”, que apresenta a proposta de que “ler aumenta a empregabilidade, aumenta a capacidade de produzir, de inserir-se, de estar no26 mundo etc”. “Esse aspecto pode não ser positivo caso tome a dimensão tal que se torne o principal do programa”, disse.
E, por fim, a sexta linha de força da promoção da leitura fala sobre “leitura e experiência/formação”: ‘para ajudarmos a fazer do aluno um leitor efetivo, crítico, precisamos, antes de tudo, conceber a leitura como produção de sentidos, como atividade de co-autoria’.
Na opinião do professor, esse material pode ser utilizado pelos institutos, fundações e empresas que desenvolvem iniciativas na área como um mapa analítico para se autoavaliarem e identificarem o que os move, em que intensidade ou que determinação cada tendência aparece, ajudando, inclusive, a pensar em quais aspectos precisa ou quer se dedicar mais.
Indicadores
Durante o encontro, Ana Lucia Lima, diretora executiva do Instituto Paulo Montenegro, apresentou também uma prévia dos dados do INAF 2015 (Indicador de Alfabetismo Funcional), que será lançado em breve. Foram realizadas 2 mil entrevistas domiciliares, representando a população brasileira de 15 a 64 anos e, estas pessoas, participaram de um teste cognitivo e responderam a um questionário.
Ana Lucia explicou que o INAF contempla duas dimensões do Alfabetismo: o Letramento – habilidade de ler e escrever diferentes gêneros e suportes, com coerência e compreensão crítica; e o Numeramento – habilidade de construir raciocínios e aplicar conceitos numéricos simples, de usar a matemática para atender às demandas do cotidiano. Além disso, se definem quatro níveis de Alfabetismo: Analfabetismo / Alfabetismo Rudimentar / Alfabetismo Básico / Alfabetismo Pleno. O questionário busca ainda identificar o contexto e trajetórias pessoais e hábitos e práticas de leitura e escrita em diferentes contextos: família, trabalho, estudos etc.
A diretora do Instituto ressaltou o quanto a leitura de publicações literárias e as habilidades de letramento estão fortemente correlacionadas entre si permitindo identificar mais claramente de que maneira o fortalecimento de uma delas impactará positivamente no desenvolvimento da outra e vice-versa.
Um outro recorte do estudo, feito especialmente para esta reunião, mostrou que dentre os que costumam frequentar bibliotecas públicas ou comunitárias há uma proporção significativa de pessoas com baixos níveis de letramento. “Para acolher este perfil de público, fica evidente a importância de ampliar e fortalecer estes espaços como estratégia para promover o papel da leitura na formação de indivíduos inseridos de maneira plena em uma sociedade letrada. O perfil das instituições que compõem a Rede Temática de Leitura e Escrita de Qualidade para Todos constitui um espaço privilegiado para compartilhar estas reflexões e propor ações que promovam os avanços esperados”, disse Ana.
Ações
Ao final do encontro, os participantes puderam ainda debater sobre alguns aspectos a respeito do planejamento estratégico da Rede Temática para 2016, além de compartilharem impressões sobre o tema com Volnei Canonica, diretor do Livro, Leitura, Literatura e Biblioteca (DLLLB) do Ministério da Cultura.
A proposta foi discutir sobre como os investidores sociais podem cooperar com o poder público de forma a evitar sobreposições, sendo mais efetivos nas ações de promoção à leitura e escrita no país. Volnei destacou que está à disposição do grupo para, juntos, pensarem em novas iniciativas.