Relatório Jovens na Ibero-América 2021: 67% dos jovens brasileiros afirmam gostar de ler, mas leem apenas dois livros em média por ano

Levantamento promovido pela FSM indica que brasileiros de 15 a 29 anos leem menos quando comparados com jovens da mesma faixa etária de países como Espanha, Chile, Argentina, Colômbia e República Dominicana. Estudo também aborda temas como participação sociopolítica, valores, perspectivas de futuro sobre estudo e trabalho, atividades de cultura e lazer, igualdade de gênero e principais medos.

Acesse o resumo executivo e a íntegra do estudo no site do Observatório da Juventude na Ibero-América

Foi divulgado em 22 de setembro o Relatório Jovens na Ibero-América 2021, produzido pelo Observatório da Juventude na Ibero-América e promovido pela Fundação SM. A pesquisa aponta que 67% dos jovens brasileiros de 15 a 29 anos afirmam gostar de ler, mas leem apenas dois livros em média por ano – patamar inferior quando comparado com Espanha, Chile, Argentina, Colômbia e República Dominicana.

Esses resultados são fruto de estudo que analisa e compara as percepções de mais de 13,5 mil jovens de nove países ibero-americanos: México, Peru, República Dominicana, Chile, Brasil, Argentina, Equador, Colômbia e Espanha. O relatório também aborda outros temas relevantes para as juventudes, como participação sociopolítica, valores, perspectivas de futuro sobre estudo e trabalho, atividades de cultura e lazer, igualdade de gênero e principais medos.

De acordo com o relatório, “embora os jovens espanhóis, em comparação com os latino-americanos, desfrutem historicamente de maior nível educacional, de mais ampla disposição de equipamentos culturais (livrarias, bibliotecas, etc.) em seu território e de poder aquisitivo superior, as diferenças evidenciadas nos hábitos de leitura não se revelam na mesma proporção. Mesmo fato é notado quando investigamos o perfil de leitores em países onde os desníveis socioeconômicos são gritantes – na pesquisa Retratos da Leitura do Brasil (2020), nota-se que, ainda que a frequência de leitura seja maior entre os brasileiros mais ricos e educados, é nas camadas médias e populares que encontramos a mais expressiva parcela de leitores do país (em números totais, representam 70% da população que se declara leitora)”.

Veja nos gráficos abaixo as principais comparações entre os países apresentadas no estudo.

Fonte: Relatório Jovens na Ibero-América 2021

Sobre a preferência por livros impressos, a publicação destaca a análise de Reyes Fernandez: “é curiosa a preferência pelo material físico entre um grupo que tem priorizado a busca pelos dispositivos digitais no tempo de lazer. Até que ponto essa prática tem operado como um intervalo, um momento de desligamento da profusão de luzes virtuais em que estão imersos, e de imersão em outros sentidos? Na mesma medida, cabe questionar se a limitação do dispositivo usado pela maioria dos jovens para conexão a arquivos digitais – o telefone móvel – não seria um inibidor para a fruição on-line dessa atividade. Quando o desejo de leitura é por textos mais longos, a tela do celular talvez não se apresente como um suporte convidativo”. 

Violência e corrupção são as questões que mais afetam os jovens brasileiros

Chama a atenção o fato de 41% dos jovens pesquisados declararam já terem presenciado ou terem sido vítimas de conteúdo violento ou sexual na Internet. 23% também declararam ter testemunhado assédio e intimidação através da Internet, 33% agressões físicas a amigos ou conhecidos, enquanto 30% declararam ter presenciado violência policial. Maus-tratos na escola e no trabalho são outros problemas relatados por jovens brasileiros, já que 32% afirmaram ter presenciado maus-tratos no âmbito escolar.

Talvez por causa desta preocupação com a violência, os jovens brasileiros afirmam que a segurança cidadã é uma das questões que mais valorizam, atrás apenas da família (99%), da saúde (98%) e da educação (98%).

A segurança cidadã ocupa a quarta posição: 95% afirmam que é uma das coisas mais importantes na vida, embora também dizem que confiam nas Forças Armadas (67%), na Polícia (60%) e no sistema judiciário (47%). A pesquisa aponta que os jovens brasileiros são os que mais confiam nessas instituições na Ibero-América. Em contraste, só 17% dizem que confiam nos partidos políticos e 31% no governo.

Por outro lado, os jovens brasileiros são também os mais conscientes na Ibero-América em relação à desigualdade de gênero, outra de suas maiores preocupações. Os jovens brasileiros classificaram a situação das mulheres como pior em termos de salários (55%), oportunidades de trabalho (50%) e distribuição das tarefas domésticas (52%), juntamente com a distribuição das tarefas familiares.

Da mesma forma, preferem viver em sociedades diversas (64%); consideram que os imigrantes são tratados com indiferença (31%) e desconfiança (20%) e a grande maioria estaria disposta a iniciar um projeto migratório.

Discriminação e nível de liberdade

O relatório também destaca outros aspectos, como o fato de que quase 60% dos jovens brasileiros pesquisados afirmam ter se sentido discriminados, sendo a aparência física (14%) e a maneira como se vestem (14%) os motivos mais comuns.

Em contraste, a falta de liberdade é um sentimento compartilhado pela maioria dos jovens ibero-americanos. 69% dos jovens brasileiros pensam que têm menos liberdade do que deveriam, enquanto apenas 21% afirmam ter um nível de liberdade adequado.

Críticos de sua geração

Assim como os demais jovens ibero-americanos, projetam uma visão crítica de sua geração (rebeldes, muito preocupados com a imagem, consumistas) e demandam uma educação afetivo-sexual que enfatize aspectos como: prevenção de doenças (HIV/AIDS), métodos contraceptivos, amor e relações sentimentais, problemas nas relações sexuais, orientação e prevenção à violência e abuso sexual.

Desigualdade e estudo

As desigualdades sociais e econômicas continuam prejudicando as expectativas de futuro dos jovens ibero-americanos em situação de vulnerabilidade. “O fato de que o Brasil, com um vasto território e seus grandes recursos naturais, bem como infraestruturas e desenvolvimento econômico maior do que muitos países da região, mostre tais taxas de desemprego ou de pessoas sem estudos nem trabalho entre sua população jovem, merece uma análise mais profunda e que deve ser estendida a toda a região”, afirmam os autores do relatório.

Em 2019, o Brasil já era o país da Ibero-América com a maior taxa de jovens que não estudavam ou trabalhavam: 14,29% dos pesquisados. Também teve a maior taxa de desemprego, com 6,93% dos pesquisados. Essa circunstância, depois da pandemia, também teve repercussões nos demais países, agravando a situação em todos eles.

Para Paulo Carrano, um dos autores do relatório e professor da Faculdade e Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF), “a educação é uma das principais preocupações dos jovens ibero-americanos, pois eles acreditam que precisam dela para poder ascender socialmente, também mostram preocupação com a incerteza do futuro, que é marcada pelas desigualdades sociais e econômicas”.

Assista abaixo ao lançamento da pesquisa:

SOBRE O ESTUDO

Jovens na Ibero-América 2021 é parte de um trabalho mais extenso que a Fundação SM está desenvolvendo com o Observatório da Juventude na Ibero-América (www.observatoriodajuventude.org). Trata-se do décimo estudo realizado pela Fundação SM para conhecer as preocupações, interesses e motivações da juventude.

Mayte Ortiz, diretora-geral da Fundação SM, ressalta que o relatório é mais um documento que marca o fim de um período de trabalho: “gostaríamos que [esse estudo] fosse o começo ou o impulso para que toda a comunidade educacional trabalhasse em colaboração para definir itinerários de formação de cidadãos e cidadãs globais que atuam a partir da ética do cuidado para alcançar verdadeiras transformações sociais para o bem comum”.

Os autores e responsáveis pelo estudo, Juan María González-Anleo, Martha Lucia Gutiérrez Bonilla, Juan Raúl Escobar Martínez, Eliane Ribeiro, João Pedro da Silva Peres, Lorenzo Gómez Morín Fuentes, Paulo César Rodrigues Carrano, Maria Pereira, Mateo Ortiz-Hernández, Natalia Reyes Fernández, Ariana Pérez e Paloma Fontcuberta, têm ampla experiência em pesquisas no âmbito da juventude e participaram anteriormente de outros relatórios e pesquisas da Fundação SM.

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